24 julho 2012

As Divinopolitanas: A Bibliotecária do Ipiranga

Opa, to de volta! Gostaram da última história? Se sim: Obrigado! Se não: que dó para você. Mas se você ainda não leu as outras últimas histórias, clique aqui para ler: A Barraqueira do Centro e A dividida do São José. Boa Leitura!         


                                                                                                                                                     

Ipiranga, bairro onde você encontra um campinho que ninguém utiliza, um posto de saúde mais velho que a falecida Dercy e uma vizinhança boa para falar da vida alheia. Bairro grande, onde é muito comum ver várias oficinas em cada esquina. Nesse bairro é que vive a Dona da História.   

Mariana(clique),uma garota de 25 anos, cara de menina, recém-formada em Letras. Foi trabalhar na biblioteca da escola do bairro, a famosa Miguel Couto. E ela é:
                                      A Bibliotecária do Ipiranga
        Mariana é uma menina ''recatada''. Ou melhor, dizendo, na frente dos outros é uma Santa, por trás é aquela garota viciada em livros e com várias fantasias, mas no fundo quer mesmo um amor como nos contos de livros de romance.  Usa uma saia de crente, mesmo não sendo uma. Ela estava indo para seu primeiro dia de emprego como bibliotecária na escola Miguel Couto. Esse era seu sonho desde pequena: cuidar de livros, mas seu defeito era ser ficar viajando, na verdade, acabava obrigando as pessoas da vida real a serem os personagens do livro que ela está lendo no momento. Na 5ª série ela começou a ler um livro chamado: ''Amor e Brigas''. Baixou a personagem principal nela e a mesma saiu no tapa com a ficante de um menino que ela gostava, ou melhor: o personagem principal da história. Sua mãe já dissera: Iria colocá-la em um hospício se continuasse lendo livros e fizesse deles a vida real.
Lá ia ela para seu primeiro dia de emprego, com sua mochila rosada nas costas, óculos, saia jeans, uma blusa branca e seus livros velhos que já estava cansada de ler. Chegou à rua da escola. À primeira vista tinha um portão pequeno, mas era 1 da tarde. Ela viu que alguns alunos, em torno de cinco, duas meninas e três meninos, andavam a espreita, pareciam estar com medo que alguém pudesse aparecer. Ela escutou um deles falando:
- Algum sinal da Márcia Pitbull?
Assim que terminou, todos saíram correndo e Mariana avistou a tal mulher, que disse bem brava e apontando para uma das salas:
- Voltem todos para a sala! – gritou – Ai, se eu observar um de vocês fora dela!
Depois do xingo,Márcia inda com cara de brava, notou a presença da garota atrás das grades do pequeno portão e disse sorrindo:
- Posso te ajudar, mocinha?
Mariana sorriu e disse:
- Acho que sim. Chamaram-me para trabalhar aqui e...
Ela nem terminou de falar e a Pitbull, como era chamada pelos alunos, pediu para ela ir para o outro portão. Mariana olhou para o lado e viu um portão não muito longe. Era um portãozinho pequeno e ao lado um maior, lugar dos carros passassem e logo em frente estacionarem. 
Ela viu um interfone ao lado do pequeno portão, apertou e o portão abriu. Márcia toda pomposa veio ao encontra da jovem, e deu um grande abraço com sorriso, como se conhecessem há muitos anos.
- Bem vinda! - disse sorrindo - A Biblioteca é a quarta sala, ao lado da sala dos professores. A Rosa, a ex-bibliotecária, está lá arrumando suas coisas para poder ir embora e finalmente se aposentar.
Márcia saiu rindo com seus dentes branqueados, seu sorriso falso e dando grandes bundadas de um lado para o outro.
Mariana, pelo pouco que ouviu, pensou que as professoras dali eram bem nojentas e metidas. Mas ao adentrar a biblioteca, viu que tudo ali era bem organizado, tinha computadores modernos e uma mesa perto da porta onde estava a tal Rosa que parecia ser bem rabugenta, pois não estava tratando bem uma garotinha por ter atrasado uma entrega de um livro. A garotinha saiu e Mariana entrou meio que receosa.
- Oi? - Perguntou com um pouco de medo
- Você deve ser a nova bibliotecária, não é? – Disse a velha rabugenta olhando por cima do aro de seus óculos de tartaruga e botando a mão em suas costas que pareciam estar doendo. – Aleluia! Finalmente vou embora dessa escola.
Rosa, já sem paciência, pegou a sua bolsa e saiu. Sem explicações, sem nada para recomandar a jovem garota e muito menos o que ela teria o que fazer. Mas quem disse que Mariana se importou? Deu um sorriso sarcástico e disse bem baixinho.
- TUDO MEU! - disse erguendo um livro que estava na mesa.  A menina deu uma enorme gargalhada que foi interrompida por um jovem garoto que aparentava ter dezessete anos. Mariana ficou vermelha e logo se desdobrou para disfarçar a cena.
- Oi, tudo bem? Chamo-me Mariana e sou a nova bibliotecária! Eu estava lendo um bom livro e decidi encanar o personagem – disse rápido, dando umas risadas abafadas e mostrando o livro.
O garoto ficou meio abobado, sem entender nada, pegou na mão da moça deu um beijo por educação e se apresentou:
- Me chamo Vinicius(clique) e estou no 3º ano - sorriu - Estou à procura de um livro de amor para fazer uma coisa.
Ficaram procurando algum livro que tinha as características definitivas e nada acharam. Os dois viram um livro conhecido por muitos em cima da mesa, chamado: ‘’Amor, estranho amor’’. Um livro conhecido por estrofes de amor criadas por um alemão apaixonado. No meio de tantas estrofes apaixonadas, tinha contos do autor.
No meio de tantos livros sobre a mesa, os dois viram o tal livro. Ambos foram pegar e as duas mãos dos jovens se encontram. Vinícius olhou para a menina sem nenhum pudor, riu e pediu desculpas. Mariana por sua vez sorriu e ficou olhando nos olhos do garoto. Então, ela voltou a si, mas com malícia:
- E... Esse livro é MUITO bom, estava à procura dele faz um tempão e na certa vai te ajudar bastante. - dizia ela, vermelha.
- Obrigado!
Vinícius saiu como uma bala. Mariana ficou ali, sem reação, muda e com um pouco de calafrios. Sentia um fogo que não sabia de onde vinha. Buscou se recompor,  e em cima da mesa, com vários livros em volta, outro exemplar do ‘’Amor, estranho amor’’. Aquele livro era a paixão da garota, sempre procurou lê-lo na biblioteca da cidade, mas sempre estava alugado ou quando tentava comprar na Boutique do Livro, mas sempre estava em falta. A menina arrumou a mesa, botou todos em seus devidos lugares, se sentou e começou a ler uma estrofe:
Aos seus olhos quando vi, senti a brisa do vento.
A sua mão, gélida como a neve.
A brisa de sua presença, felicidade eu senti.
Em baixo mostrava o uma pequena conversa entre Red, protagonista do livro e Erika, sua paixão. Nem precisa dizer que a jovem foi à loucura e não parava de pensar em sua paixão, Vinícius, não é?
Já se passava das 3 da tarde, mais precisamente eram 15h20. Alguns alunos passaram pela biblioteca e Mariana continua a ler seu romance e cada vez mais fogo que ela sentia subir. Mas ela foi interrompida novamente por Vinícius.
-Oi - Disse o garoto rindo educavelmente.
Ela não o esperava e velou um susto, fez que a garota pulasse da cadeira e ficasse imóvel, em pé e sorrindo.
- Mariana, poderia me emprestar uma caneta?
- Por que quer de uma caneta, Vinícius?
O garoto pensou, demorou uns segundos e disse.
- Eu estou precisando anotar um nome de um livro, papel eu tenho, mas esqueci de pegar a caneta. Poderia me emprestar?
A garota toda sorridente emprestou uma caneta para o rapaz, ele foi para o fundo da biblioteca, e a menina ficou ali, só olhando pelo rabo do olho. Ela notou que ele colocou um papelzinho numa prateleira, veio para perto de Mariana, entregou a caneta e saiu bem rápido. A garota pensou em chamá-lo de volta, mas viu que o papel não tinha nada haver com livro algum. Mariana hesitou, ficou no vai e não vai e até que decidiu ler o que estava escrito ali.
Para meu amor:
Aos seus olhos quando vi, senti a brisa do vento.
A sua mão, gélida como a neve.
A brisa de sua presença, felicidade eu senti.
Assinado: Seu garotão!
Ela pegou o papel, amassou com uma mão e ficou segurando em seu peito. O fogo novamente subia entre suas pernas e ela estava confusa e fica se perguntando: “Será? Não, ele é apenas um garoto. Ele é um moleque e isso seria antiético.”.
Seus pensamentos foram atrapalhados por uma menina bonita, sorridente e bem seria por sinal. O nome dela era Thais, tem 17 anos e está no 3º ano.
- Tudo bem? - perguntou ao entrar no lugar - Posso ver se tem um livro que me interessa?
Mariana balançou a cabeça dizendo que sim. A menina foi devagarzinho, procurando algo que estaria nas prateleiras.
“Livro ela não está procurando. Se tivesse, olharia a capa ou o gênero, mas ela não estava procurando nada disso”, pensou Mariana.
Do nada, Thais parou, olhou bem para ver se achava o que procurava, mas nada. Coçou a cabeça, ficou séria e ela saiu dali como uma bala. Nem deu tempo de Mariana perguntar em que tipo de livros estaria interessada.
No final da aula, Mariana ainda dava baixa nos livros que foram devolvidos pelos alunos e olhava sem parar o livro pelo qual estava apaixonada. Assim que viu no relógio que eram 18h30min, se assustou, arrumou as coisas e foi embora.
No caminho de volta para casa, ela passou por uma igreja chamada São João. Mariana ficou pensativa e resolveu entrar na igreja para refletir. Ainda por cima, talvez alguém pudesse resolver seu problema.
Ela entrou na igreja, sentou em um dos bancos e ficou pensando na vida. Pouco tempo depois, uma freira sentou-se ao lado dela. Mariana se admirou:
- Puxa! - disse bem surpresa - Você é bem nova para uma freira. Qual o seu nome?
- Me chamo Vitoria(clique, lembra dela?), foram as circunstâncias da vida que me trouxeram aqui. - Disse com um sorriso bem fraco – Vi que você está um pouco aflita. Se quiser, pode conversar comigo.
Mariana ficou apreensiva de contar tudo para uma freira. Mas, como aquela jovem freira estava ao serviço do Senhor, provavelmente poderia ajudá-la a pensar melhor em tudo que tinha acontecido nas últimas horas. Tomou coragem, e começou a falar de tudo. Ficou quase uma hora ali, falou do fogo que subia suas pernas, do aluno e dos livros que ela lia e se apaixonava pelo personagem pensando ser uma pessoa ou vice e versa.
- Minha filha, não te darei conselho nenhum. Escutei um conselho de uma conhecida e meio que me arrependi. Não, não voltaria atrás. Se você gosta, fique! Mesmo não importando o que possa vir acontecer – e sorriu.
Mariana foi embora e no caminho pensava tudo o que a freira Vitoria falara, mas aquilo a incomodava muito – além do mais, a freira não deu nenhuma dica que iluminasse seus pensamentos. Assim que entrou em casa, tomou banho e quando estava se preparando para dormir, ela viu o livro que tinha pegado na escola, começou a foliar e parou numa estrofe:
Quando tudo parecer estar errado, vire para trás e veja que você pode mudar o que errou.
Num passe de mágica, Vinícius estava na frente de Mariana. Ele estava bem à frente da cama da garota, que se sentou rapidamente.  O sósia do garoto se apresentou como Red. Ele chegou perto do ouvido da menina, que sentiu calafrios e disse mais um trecho de sua fala do livro:
- “Amo-te, como nunca amei alguém na vida. Sua respiração me aquece e seu beijo me cativas.”
O personagem ficou frente a frente com a bibliotecária, ficaram cara a cara e beijaram-se demoradamente. Mas a fantasia acabou quando o despertador tocou e mostrou que eram 10h30 da manhã e Mariana estava beijando o travesseiro. Ela olhou para os lados, sentiu um grande vazio e foi fazer o almoço, para depois trabalhar.
Era 13h30 da tarde quando Mariana chegou à biblioteca, e teve uma grande surpresa. Vinícius estava lá, no mesmo local que ele tinha colocado o bilhetinho. Mariana começou a suar e ficou sem graça com a presença do garoto. Quando ele notou a presença dela, ficou mudo, sorriu e saiu correndo da sala. De boba ela não tinha nada. Foi até o local que ele estava e achou o segundo bilhete. Ela leu calmamente e dizia:
Amo-te, como nunca amei alguém na vida. Sua respiração me aquece e seu beijo me cativas. Não consigo parar de te olhar um só minuto e o que eu sinto sobe pela boca e quando me acalmo te encho de beijos.
Quer namorar comigo?
Ela, por um minuto, foi ao céu. Sua cabeça rodava e não se contia de felicidade. Estava grifado e tudo: ‘’Quer namorar comigo?’’. Aquele aluno seria seu primeiro namorado.
Mas seus devaneios se foram quando Thais, a menina de ontem, voltou sorridente, pediu licença e foi ao fundo da biblioteca. Olhou, procurou e nada. Saiu com os olhos lacrimejando e foi embora. Mariana se sentou e voltou aos seus afazeres.
Não passou nem vinte minutos e o garoto estava de volta, parecia estar nervoso e aflito e quando ele ia dizer alguma coisa Mariana se levantou, foi até ele e disse:
- Não quero pensar duas vezes, eu quero sim é me casar com você! – disse, abraçando-o. Quando ia beijá-lo, ele a segurou pelo braço.
- Senhora, acho que está acontecendo um grande engano! - disse soltando a mulher e coçando a cabeça. – Esses recadinhos são para meu amor e com certeza não é você!
Thais chegou rápido, nervosa e abraçou Vinícius. Mariana tentava se desculpar e deu o bilhetinho para o garoto que por sua vez mostrou para sua ficante e deram um beijo demorado. Então, Thais disse alegremente:
- SIM!
Mariana, com sua tristeza, segurava o seu livro preferido com as duas mãos em seu peito. Sabia que seu final não era esse e nem aquela menina deveria estar ali. Em seu íntimo ela faria um barraco, estapearia a cara de Thais, cuspiria na cara de Vinícius, rasgava seu vestido todo e ficaria seminua para provar que era melhor. Mas quando voltou a si, viu os dois rindo. Pediu desculpa pela confusão e Mariana disse:
- Red, querido, a sirigaita não pode terminar com a pessoa errada, não acha? – Disse ela com os olhos fundos e mordendo os destes de raiva devido ao seu intenso ciúme. – Mas como toda história tem que ter um fim, o da vadizinha vai ter um fim em instantes.
Mariana tentou da biblioteca, mas foi interrompida por Vinícius:
-Perai, aonde você vai? – perguntou-o, ainda abraçado com sua nova namorada - Vai deixar a biblioteca sozinha?
Mariana, feriada e com lágrimas começando a rolar pelo rosto, disse:
- Já volto!
Mulher ciumenta é um perigo, mas ciúmes e envolvendo uma paixão de livro, real, ou seja, lá qual for ela é pior ainda. Mariana foi à cozinha, pediu álcool emprestado para a ‘’tia’’ – as cozinheiras como são chamadas pelos alunos –, e uma caixa de fósforos. A servente perguntou para que ela queria aquilo. Mariana desconversou e saiu sem falar nada. Voltou à biblioteca e viu os dois trocando mais carinhos. Ela iria dar um fim nos dois matadores de aula do jeito mais romântico possível.
- ATENÇÃO! - Gritou, enquanto esparramava álcool pela biblioteca - Estou mais conformada... mentira não estou! Nunca vou estar e se vocês querem ficar juntos, tudo bem! Red, meu amor, desculpe, mas terei que te matar! - Ela estava com os olhos esbugalhados, descabelada e com um palito de fósforo na mão.
O garoto tentava de todo jeito mudar de ideia da bibliotecária, mas era em vão. Ela só os ofendia. Cansada de tudo, Mariana jogou um fósforo no chão e tudo começou a pegar fogo. Quando os dois ameaçaram a correr, ela segurou no braço de Thais e disse que ficaria ali e iria para o inferno, mas Vinícius deu um pisão no pé de Mariana que a fez soltá-la. Thaís e Vinícius conseguiram sair da biblioteca, mas quando Mariana ia sair, a porta se fechou e ela ficou ali, trancada, gritando e só parou quando fogo consumiu o lugar, e a si mesma.
Nesse momento existiam várias pessoas do lado de fora da biblioteca: gritando, tentando abrir a porta e ninguém conseguia. Mais tarde, quando tudo se acalmou e o fogo foi contido, viram que tudo ali fora perdido.
Mariana? Essa partiu dessa para uma melhor. Mas, uma coisa os intrigou: o livro que ela segurava ‘’Amor, estranho amor’’, era a única coisa intacta naquele lugar. Estranho? Demais.
Já dizia o velho sábio: “Realidade contra realidade. Noventa por centro de realidade, dez por cento de fantasia. Quem se torna prisioneiro da ficção, nada tem.”

3 comentários:

  1. Que história legal, porém o fim foi um pouco trágico né? Adorei, continue escrevendo assim, você tem muito talento!

    Beijão!

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  2. Haha, adorei ter participado da história. \o/
    Keep up with the good work.
    \o/

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  3. Adorei também fazer parte da história shaushuahsuahsua
    Gostei também,bom trabalho :D

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